Pois é, parece que foi ontem que eu aterrissei em Schiphol. Olhando pra trás, parece que a pessoa que chegou na Holanda há exatamente 5 anos era outra....
Em 2011 eu fiz um post sobre os prós e contras de morar por aqui. Eu ainda penso assim hoje em dia, talvez eu poderia acrescentar mais coisas a essa lista, mas não é isso que quero fazer hoje. Meus posts sobre o segundo e terceiro ano morando aqui foram mais uma espécie de resumo dos acontecimentos até os respectivos anos. Ano passado eu escrevi um post tanto quanto superficial sobre o quanto eu cresci e mudei desde que vim morar aqui. Hoje eu resolvi que vou me aprofundar mais no quanto eu venho mudando e amadurecendo desde do dia em que pisei em um avião com destino á Amsterdam.
Eu sempre fui uma menina muito melancólica e com tendencias à depressão e me sentia vitima do mundo. Ao vir morar na Holanda eu achava que, por estar realizando um grande sonho e ainda estar cheia de esperanças de realizar todos os outros, todos esses problemas iriam passar. Sabe o Chandler de Friends? O cara que pra esconder seus medos e inseguranças usa sarcasmo e piadas? Pois é, eu sou meio assim. Me esconde atrás de uma máscara de 'menina engraçada' pra não ter que lidar com o buraco negro que é minha cabeça. Mas o problema é que eu não fazia ideia de que agia assim, era tudo inconsciente demais.
Vir morar na Holanda foi a maior jornada de auto-conhecimento que eu poderia ter feito. Principalmente o tempo em que eu fui morar na Bélgica. Foram tantos dias em que eu ficava sozinha que não houve outra alternativa a não ser me confrontar de todas as maneiras possíveis. Foi aqui que aprendi que eu me escondo atrás das piadas e sarcasmo. Foi aqui que eu fui pressionada a lidar com a minha melancolia e tendencias depressivas de maneira a não deixar isso afetar meus planos e atitudes. Foi aqui que eu aprendi que sou, na verdade, bastante anti-social e não vejo graça alguma em coisas que são impostas.
Nesses anos de Holanda eu também me descobri uma grande ativista dos direitos humanos. Tanto que estou me programando pra trabalhar em ONGs que cuidam dessa área assim que me formar na faculdade. No últimos anos eu tenho desenvolvido tanto esse meu lado humanista e acho que parte disso é por eu ter vivido o outro lado da história. Como vocês sabem, eu vim pra cá pra ser au pair. Mas por muito tempo fui tratada praticamente da mesma maneira que as empregadas brasileiras são tratadas e isso me fez refletir muito no quanto nos consideramos superiores ao outros e nem percebemos o tamanho do nosso privilégio. Sério, só o fato de eu ter tido uma mãe que me fez ir à escola já é um privilégio enorme. Tanto eu quanto você que está lendo esse texto com algum aparelho que tem acesso à internet, fazemos parte de uma porcentagem minúscula da população mundial que teve acesso à educação. Esse ativismo todo me fez descobrir que eu não sou de maneira alguma vitima do mundo. Muito pelo contrário, eu sou uma das poucas pessoas que tem alguma forma de condição financeira e recursos básicos pra, pelo menos, tentar fazer alguma diferença no planeta.
Eu já não sou mais aquela menina sonhadora e cheia de esperanças inatingíveis. Eu aprendi da maneira mais difícil que alguns sonhos simplesmente não se tornam realidades, mas outros sim. E nada nos impede de criar outros sonhos ao longo da vida. Hoje eu não vivo mais de sonhos e sim de objetivos a curto prazo. No momento meu maior objetivo é terminar o primeiro ano da faculdade (ainda faltam três meses) sem nenhuma recuperação ou atrasos. Outro objetivo que eu já estou trabalhando há algum tempo é pra clarear o buraco negro que são minha emoções e não ser mais tão depressiva e melancólica. Já melhorou uma quantidade enorme desde que me tornei consciente da minha maneira de ser. Mas o processo é longo e doloroso e ainda tem dias que eu acordo sem vontade de nada, a não se ficar na cama e chorar sem motivo algum. Mas nesses dias eu sempre procuro dentro de mim mesma algum motivo pra levantar e fazer algum tipo de diferença no mundo. Mesmo que seja pequena, mesmo que seja só levar o lixo pra reciclar.
Enfim, o post tá ficando grande e triste demais. Vou encerrar dizendo que sou sim uma pessoa feliz e que a minha jornada de auto-conhecimento só tem me feito bem. A cada dia eu tento ser uma pessoa melhor do que fui ontem. Mas a lição mais importante que eu aprendi nos últimos cinco anos é que se você não enfrentar seus problemas, eles nunca vão se resolver. Palavra de quem mudou de continente pra fugir deles e mesmo assim eles vieram na bagagem....
Ah, caso não tenha notado ainda, eu mudei o layout do blog. Me diz se ficou legal ;-)