O ano era 1995 e esse foi o ano que minha mãe colocou tv à cabo lá em casa. Foi nessa época que descobri a lindeza que era ter MTV (nessa época ainda era canal à cabo), canais com 24 horas de filme e séries, muitas séries. Eu posso dizer com toda certeza que 90% do inglês que eu sei eu aprendi com o tanto que séries que assistia nos anos 90. Uma dessas séries era My So-Called Life (que era traduzida pra Minha Vida de Cão). A série passava no Multishow e eu não perdia um episódio. Naquela época eu não entendia nada de temporadas de séries e nem de quantidade de episódio por temporada. Eu achava que o fato do Multishow reprisar o mesmo episódio tantas vezes era por desleixo mesmo. Mal sabia eu que a série já tinha sido cancelada com somente uma temporada com 19 episódios.
A série é estrelada por Claire Danes (Homeland) e Jared Leto (30 Seconds to Mars), entre outros atores brilhantes mas menos conhecidos. Tipo, eu não me identificava com a Angela Chase (personagem principal interpretada pela Claire), eu ERA a Angela. Na verdade eu ainda sou a Angela de uma certa maneira. E o Jordan Catalano (garoto por quem Angela é apaixonada) foi o primeiro amor plantônico que tive na vida. Angela era uma menina de 15 anos super introspectiva, que questionava e filosofava sobre tudo, que era muito insegura consigo mesma, bastante tímida e teimosa. Claire Danes tinha só 15 anos quando interpretou Angela e esse foi um dos motivos da série ter sido cancelada, pois a quantidade de horas que ela precisava trabalhar estavam afetando seus estudos e seus pais decidiram que ela tinha que trabalhar menos. Não vou explica a sinopse da série porque isso acha com 3 segundos no Google.
Fala sério, você também seria completamente apaixonada por ele aos 15 anos |
My So-Called Life estreou em 1994 e, como não poderia ser diferente, a série tem toda uma temática grunge. Das roupas dos personagens às musicas que eles escutam, é tudo um paraíso pra pessoas que cresceram nessa época. Como eu disse, eu conheci a série em 95 aos 12 anos. Em 2006 eu finalmente pude baixar a série e assistir por completo. Eu já não era mais uma adolescente nessa época e mesmo assim ainda senti que as situações levantadas pela série eram bem relevantes, atuais e emocionantes. Umas semanas atrás encontrei um tumblr sobre a série e tava conversando com uma amiga minha sobre isso. Me bateu vontade de ver de novo e mais uma vez, aos 30 anos de idade, quase 20 anos depois de ter conhecido a série, eu me emocionei com as situações revelantes e ainda atuais da série. Dessa vez eu percebi que apesar de eu ainda ter muito da Angela dentro de mim, eu pude me identificar muito mais com os pais dela passam na série. Foi a primeira vez que consegui me colocar no lugar deles e perceber o quão relevante os problemas deles são também.
É como se você concordasse em ter uma personalidade só pra facilitar as coisas pras pessoas.
Mas se você parar pra pensar, como saber se é você mesmo?
Foi muito gostoso perceber que eu não gostava da série só por nostalgia, mas porque é realmente boa. Acho uma pena que os seriados voltados pra adolescente (tanto de hoje em dia quanto daquela época) tenham tanto medo de tocar em assuntos tao relevantes sem querer ficar passando lições de moral. A Angela e seus amigos eram adolescentes normais, que cometiam erros e se enfiavam em problemas. Mas tudo na série era tão fluido e natural que fica impossível não se identificar com aqueles sentimentos, e agora que sou adulta eu vejo que os sentimentos dos adultos da série também são naturais e reais. É realmente uma pena que a série não ganhou uma chance de evoluir e ficamos com um gostinho de quero mais pra sempre. Mas ao mesmo tempo, a série vai ser sempre linda do jeito que é sem ter uma oportunidade de ficar decadente ao longo das temporadas.
Uma coisa que eu só fui reparar dessa ultima vez que assisti é no quanto a série é feminista. Tem um episódio que eles fazem uma excursão à um museu e uma menina faz sexo com o segurança do museu. Aí um cara comenta isso com a namorada dele e ela passa um sermão nele de como se fosse um dos amigos homens dele que fizesse a mesma coisa ele acharia o máximo. Então o cara fica todo sem graça e diz "mas eu achei que você odiava ela" e a namorada diz "sim, odeio, mas existem vários motivos pra eu odiar ela, só que a vida sexual dela não é um desses motivos e nem é da minha conta". A série também discute muito como mulheres são ensinadas à odiarem seus corpos e à serem rivais com outras mulheres que consideram mais atraentes. Mas eles não batem só na tecla da sororidade, mas também na da amizade entre homens e mulheres. Também há questionamentos em ralação à relacionamentos abusivos, tanto familiares quanto amorosos. Inclusive essa foi a primeira vez que questionei se o relacionamento da Angela com o Jordan é ou não abusivo.
Outra coisa que a série está anos luz de outras séries até mesmo hoje em dia é na questão da representatividade. Tudo bem que a maioria dos personagens principais sejam brancos (menos o Ricky, mas vou falar mais dele daqui a pouco), mas a escola da Angela é cheia de gente de todas as cores. Tem vários negros, latinos, asiáticos, etc. E eles não estão só no background, eles são personagens com nomes e características. Só não fazem parte dos personagens principais. Tem um episódio em que a Angela está tendo problemas em geometria e é ajudada por uma colega de sala que é negra e só tira nota boa na matéria. Ela não é a colega negra da Angela, ela é a colega da Angela que é boa em geometria. Percebem a diferença? A cor dela não faz a menor diferença, poderia ser qualquer pessoa ali, e é por isso que ela é bem representada ali, porque ela não é um personagem colocado na trama só pra suprir uma cota.
Já o Ricky é um personagem a parte, e o meu preferido depois da Angela. Além dele ser latino, ele se identifica com bissexual. Ele aparece em todos os episódios e é um dos personagens principais. Mais pro final da temporada ele é responsável por dois dos episódios mais maravilhosos da série. Duvido que você consiga assistir à esses episódios sem chorar nenhuma vez.
Outra personagem da série que meche muito comigo é a Rayanne. Eu acho que é porque dos 15 aos 19 eu tive uma amiga muito parecida com ela. Ela transava com todo mundo, bebia muito, usava drogas e não dava a minima pra escola. Ela fazia tudo isso pra esconder problemas muito maiores com os quais ela não sabia lidar e não havia nenhum adulto na vida dela pra ajuda-la com tudo isso. Com o tempo eu fui vendo que a amizade era meio toxica e fui me afastando, mas até hoje eu me pergunto o que aconteceu com ela e torço pra que ela tenha encontrado um caminho bom.
Bom, acho que já falei demais. Corra e vai assistir a série porque eu garanto que vai amar!!!! Se já assistiu, assista de novo porque você vai ver tudo com outra perspectiva. E me conte o que acha/achou dessa série linda que eu amo do fundo do meu coração. Vou deixar vocês com uma musica do Jordan Catalando que provavelmente explica muito sobre minha obsessão por cabelos vermelhos hahahaha
Eu amo essa série! Via no sbt milhões de anos atrás e há alguns anos baixei e revi. E acho que vou fazer de novo agora. Coisas boas não envelhecem, é hora de rever o Ricky.
ResponderExcluir