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segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Fim do Orkut e amizades virtuais

Semana passada o Orkut deu seu ultimo suspiro de vida. Foram dez anos que mudaram a maneira com que os brasileiros se relacionam com as redes sociais e a maioria de nós ainda acha que o Orkut era infinitamente melhor que o Facebook. O Orkut oferecia inúmeras possibilidades de interação que o Facebook não oferece (ou começou a oferecer pouco tempo atrás). Muita gente assim como eu acredita que o Facebook seja uma plataforma mais pra ficar vendo o que os outros estão fazendo do que pra criar um diálogo verdadeiro. Quem aqui já não perdeu noites de sono discutindo um ponto de vista em alguma comunidade do Orkut? Agora, quem já fez o mesmo em um grupo do Facebook? Talvez porque estamos ficando mais velhos e isso tudo não importa mais, ou porque sabemos que tudo que fazemos no Facebook está sendo documentado. A verdade é que o nível de engajamento entre as duas plataformas é completamente diferente. Eu, como estudante de comunicação com especialização em mídia digital, posso dizer que o Facebook frustra e nos compele a viver num mundo onde nos esforçamos pra impressionar quem nos segue. O Orkut tinha um pouco essa função, mas a interação nas comunidades era o alvo e não o compartilhamento dos acontecimentos de nossas vidas. O foco do Orkut era conectar pessoas, o do Facebook é mostrar as coisas que você faz ou até o que você pensa. Não que isso seja necessariamente ruim, só não é tão legal e motivador quanto passar horas discutindo aquela série que você ama ou aquela banda que mudou sua vida. 
Enfim, uma das coisas que nos deixa mais saudosos do Orkut são as pessoas que conhecemos por lá. Eu fiz grandes amigos por lá e um dos namoros mais longos que já tive também começou em uma das dezenas de comunidades que eu fazia parte. Conheci gente de Belo Horizonte que acabaram virando meus amigos na "vida real" também e conheci gente do Brasil inteiro (e até do resto do mundo) que viraram amigos virtuais muito queridos. A maioria dessas pessoas eu ainda mantenho contato. Quando mudei pra Holanda pra ser au pair, 80 por cento das informações que consegui foram nas comunidades de au pair daqui. Também quando mudei pra Bélgica pra conseguir um visto de permanência, comunidades como a Brasileiros na Bélgica me deram várias dicas úteis. O Orkut era quase uma plataforma de utilidade pública! 

Por anos as comunidades que mais tomaram meu tempo eram das séries Lost e Supernatural. Lá eu passava várias horas diariamente, especulando, bolando teorias, falando sobre episódios passados, falando sobre os atores, etc. Foram noites sem dormir conversando (e as vezes brigando) nos tópicos de ambas comunidades. Mas a comunidade que mais me marcou, que sempre foi a mais querida, foi a da banda After Forever. Já falei aqui sobre o quanto essa banda foi importante na minha vida e que foi um dos fatores de eu ter escolhido a Holanda pra morar. Essa comunidade foi transferida pro Facebook com vários membros originais e alguns novos. Nessa comunidade eu conheci pessoas incríveis! Tenho um carinho enorme pela maioria dos membros e o nosso relacionamento é muito legal. Infelizmente todas essas pessoas queridas só fazem parte da minha vida virtualmente.

De todas essas pessoas especiais que conheci lá, a mais querida de todas foi a Laís Tomaz. A Laís e eu começamos a nos falar com mais frequência por volta de 2009, quando ela montou um fã-site sobre a Floor Jansen, vocalista do After Forever. Nessa época eu estava começando a estudar holandês e a Laís pediu minha ajuda pra traduzir algumas entrevistas e artigos pro site (pra quem não sabe os membros do After Forever são holandeses). Eu aceitei pois vi como uma boa oportunidade de praticar meu holandês e também porque sempre achei a Laís bem legal. Mas nessa época era só isso mesmo, uma garota legal da comunidade. Nós começamos a nos comunicar com mais frequência via chats e outras redes sociais, no começo falando mais sobre musica e sobre canto (ela também estuda canto). Depois de uns meses conversando com certa frequência eu já me sentia a vontade de falar de coisas mais pessoais. O relacionamento foi progredindo naturalmente, a gente se falava cada vez com mais frequência e por mais horas e cada vez tocando em assuntos mais pessoais. A Laís é 8 anos mais nova que eu, mas quando eu converso com ela eu nunca vejo diferença nenhuma pois ela tem mente aberta e experiência de vida. 

De 2009 pra cá muita coisa aconteceu tanto na minha vida quanto na dela, mas ambas passamos por todo o processo juntas durante esses anos. Sinto que crescemos juntas, temos uma visão bem parecida do mundo e até nossas frustrações são mais ou menos as mesmas. Quando algo bom acontece comigo ela é uma das primeiras pessoas com quem quero compartilhar e quando é algo ruim, eu quero correr pra desabafar com ela. Sempre tive a sensação de que ela me entende e ela sempre tem o poder de me fazer sentir melhor quando eu to pra baixo. 

Porém até esse verão a Laís era só um bando de palavras GTalk e fotos nas redes sociais, ela sempre foi virtual e por mais que nosso relacionamento fosse genuíno, ele nunca teve a parte física de ir afogar as mágoas num boteco, de ir à shows juntas, de bater perna pela cidade, de ir ver um filme. Nenhuma das coisas que uma amizade "normal" tem. Até que ano passado em agosto ela me mandou uma mensagem pra informar que estava vindo pro festival Wakken na Alemanha e depois viria passar uns dias na minha casa. Eu entrei em êxtase!! Fiz questão de montar o quarto de hóspedes pra ela (que até então tava cheio de caixas e bagunça que não tinha lugar no resto casa), fiz um roteiro de lugares pra levar ela pra conhecer, entupi ela de dicas de viagem e de festivais. Passamos um ano inteiro planejando essa viagem, eu nunca quis tanto conhecer alguém pessoalmente quanto ela. 

No inicio de agosto desse ano ela finalmente chegou com o namorado. Eles ficaram só 4 dias, foi o suficiente pra levar eles pra conhecer Rotterdam e Amsterdam e pra nos divertir e conversar muuuuuito. Apesar de quatro dias ser extremamente pouco, ela tava alí, real, de carne e osso. Eu tava com medo da situação ser meio constrangedora, tipo passamos 5 anos conversando praticamente todos os dias por horas seguidas, daí nos vemos pessoalmente e não temos nada pra conversar. Mas foi bem o contrário disso, pareceu que nos ver pessoalmente era algo normal que acontece com frequência. Não houve um momento sequer que a gente não ficou à vontade em ter ultrapassado o virtual e tornado tudo real. Quando ela foi embora ficou um vazio enorme por vários dias, a sensação de estarmos perdendo toda essa experiência de estar juntas e fazer coisas que amigas "normais" fazem. Eu confesso que chorei uma tarde inteira só de pensar que não faço ideia de quando eu a verei pessoalmente de novo, até agora escrevendo esse texto uma lágrima acabou de descer pelo meu rosto só de pensar nisso. A vontade que tenho é de entrar no próximo avião pra São Paulo só pra ver ela, ninguém mais, só ela.

Logo depois que ela voltou pra casa foi meio estranho voltar a falar só pelo GTalk e por redes sociais, ficou uma sensação imensa de que aquilo não era mais suficiente. Mas agora, alguns meses depois, já está tudo normal novamente. Continuamos conversando várias horas por dia e continuamos compartilhando tudo que acontece na vida. Mas agora sabemos que virtual não é suficiente e sabemos que nossa amizade é de verdade, por isso já estamos pensando em novas possibilidades de nos vermos o mais rápido possível. E sim, uma pessoa pode se tornar extremamente importante na sua vida sem você nunca ter conhecido pessoalmente. Amor transcende até as barreira físicas. E sim, eu tenho plena consciência de que esse post saiu bem lésbico e meloso, mas nem ligo :-P

Amizades "normais" não são a única opção e se não fosse pelo Orkut eu nunca saberia disso....

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